IVA: O Que É, Como Funciona e Impactos no Brasil

O IVA (Imposto sobre Valor Agregado) representa a maior transformação do sistema tributário brasileiro em décadas e começará a vigorar a partir de 2026. Essa mudança unificará cinco tributos diferentes em um modelo mais simples e transparente, alterando profundamente a forma como empresas e consumidores lidam com impostos no país.​

Com uma alíquota estimada em 28%, o Brasil terá um dos IVAs mais altos do mundo, mas também promete eliminar distorções históricas como a guerra fiscal entre estados e a tributação em cascata. A implementação ocorrerá gradualmente até 2033, exigindo preparação tanto de empresas quanto de profissionais da área fiscal.​

O que é o IVA (Imposto sobre Valor Agregado)?

O IVA é um tributo sobre consumo que incide apenas sobre o valor agregado em cada etapa da produção ou comercialização de bens e serviços. Diferentemente do sistema atual brasileiro, onde impostos podem se acumular ao longo da cadeia produtiva, o IVA tributa exclusivamente o valor adicionado por cada agente econômico.​

Conceito e origem internacional do IVA

Mais de 170 países adotam o IVA, e a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) junto com o Banco Mundial consideram esse modelo o mais eficiente de tributação sobre consumo. Na União Europeia, a alíquota média é de 21%, enquanto nos países da OCDE fica em torno de 19%.​

O mecanismo funciona através do sistema de créditos tributários: cada empresa paga o imposto sobre suas vendas, mas deduz o valor já pago nas compras de insumos e serviços. Assim, o consumidor final arca com o ônus tributário total, enquanto as empresas atuam como intermediárias na arrecadação.​

Por que o Brasil adotou o modelo de IVA

Especialistas reconhecem o sistema tributário brasileiro atual como um dos mais complexos e burocráticos do mundo, com cinco tributos diferentes sobre consumo (PIS, Cofins, ICMS, ISS e IPI), cada um com legislação própria. Essa complexidade gera custos elevados de conformidade para empresas, que precisam manter equipes dedicadas apenas para gestão fiscal.​

Além disso, a cumulatividade parcial dos tributos atuais eleva artificialmente os preços finais e cria distorções competitivas entre setores. A adoção do IVA busca solucionar esses problemas estruturais, simplificando obrigações acessórias e tornando a tributação mais transparente.​

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Como funciona o IVA Dual no Brasil

O Brasil não adotará um IVA único, mas sim um modelo dual composto por dois tributos complementares que funcionam com as mesmas regras de apuração e cobrança. Essa estrutura preserva a autonomia federativa, permitindo que União, estados e municípios mantenham suas competências tributárias.​

CBS – Contribuição sobre Bens e Serviços (Federal)

A CBS é o tributo federal que substituirá o PIS e a Cofins. O Congresso Nacional fixou sua alíquota de referência em 9,3%, mas poderá ajustar esse percentual conforme necessário.​

Receita Federal do Brasil gerenciará a CBS, mantendo a mesma estrutura administrativa atual das contribuições federais. As empresas farão o recolhimento mensalmente, com apuração baseada no regime de débitos e créditos.​

IBS – Imposto sobre Bens e Serviços (Estadual/Municipal)

O IBS é o tributo de competência compartilhada entre estados e municípios que substituirá o ICMS e o ISS. Com alíquota de referência de 18,7%, um Comitê Gestor unificado administrará esse tributo, acabando com a multiplicidade de legislações estaduais.​

Uma mudança fundamental é que o sistema cobrará o IBS no destino (onde ocorre o consumo), e não mais na origem (onde está a empresa). Isso elimina a guerra fiscal, pois estados e municípios não poderão mais oferecer benefícios tributários para atrair empresas.​

Imposto Seletivo (IS)

Além do IVA Dual, a reforma criará o Imposto Seletivo (IS), conhecido como “imposto do pecado”. Ele incidirá sobre produtos considerados nocivos à saúde e ao meio ambiente, como cigarros, bebidas alcoólicas e combustíveis fósseis.​

O IS terá finalidade extrafiscal, ou seja, seu objetivo transcende a arrecadação e busca desestimular o consumo desses produtos. Uma lei complementar específica definirá as alíquotas.​

Quais impostos o IVA vai substituir

A reforma tributária promove a unificação de cinco tributos sobre consumo que atualmente possuem legislações, bases de cálculo e regimes de apuração distintos.​

Tributos que a reforma extinguirá

O cronograma prevê a eliminação progressiva destes impostos até 2033:​

  1. PIS (Programa de Integração Social): contribuição federal sobre o faturamento das empresas​
  2. Cofins (Contribuição para Financiamento da Seguridade Social): também federal, incide sobre receitas​
  3. ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços): tributo estadual, o mais complexo do sistema atual​
  4. ISS (Imposto sobre Serviços): de competência municipal, com alíquotas variáveis por cidade​
  5. IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados): federal, o sistema manterá apenas para produtos incentivados na Zona Franca de Manaus​

Comparativo: Sistema atual vs Sistema IVA

A principal diferença está na forma de tributação e no aproveitamento de créditos. O quadro comparativo evidencia as mudanças estruturais:​

AspectoSistema AtualNovo Sistema (IVA)
Quantidade de tributos5 diferentes com legislações próprias2 tributos principais (CBS e IBS)
ComplexidadeAlta, múltiplas regras e regimesMenor, regras padronizadas
Local de cobrançaOrigem (onde está a empresa)Destino (onde ocorre o consumo)
Aproveitamento de créditosLimitado, gera efeito cascataAmplo, não cumulatividade plena
TransparênciaImposto embutido no preçoDestacado na nota fiscal
Guerra fiscalComum entre estadosEliminada
A não cumulatividade plena é o diferencial mais significativo: no sistema atual, nem todos os tributos permitem crédito integral, gerando sobreposição de impostos. Com o IVA, as empresas poderão creditar todo tributo pago em etapas anteriores.​

Alíquota do IVA no Brasil: Quanto será cobrado

A definição das alíquotas é um dos pontos mais debatidos da reforma tributária, pois impacta diretamente empresas e consumidores.​

Alíquota padrão estimada em 28%

Segundo o secretário extraordinário da reforma tributária, Bernard Appy, a alíquota padrão do IVA brasileiro ficará em torno de 28% (9,3% de CBS + 18,7% de IBS). Esse percentual torna o Brasil o país com o maior IVA do mundo, superando a Hungria (27%).​

Entretanto, o Congresso estabeleceu uma trava de 26,5% como limite máximo até 2030. Se a alíquota ultrapassar esse patamar, o governo federal deverá enviar ao Congresso Nacional, até março de 2031, um projeto de lei complementar propondo a redução de incentivos fiscais.​

O Legislativo ainda poderá ajustar a alíquota final conforme modificar exceções e regimes diferenciados. Cada nova exceção criada aumenta proporcionalmente a alíquota padrão, pois reduz a base de arrecadação.​

Alíquotas reduzidas e diferenciadas

O texto da reforma prevê alíquotas reduzidas de 60% para diversos setores considerados essenciais ou sensíveis:​

  • Saúde: serviços de saúde, dispositivos médicos e medicamentos​
  • Educação: estabelecimentos de ensino em todos os níveis​
  • Transporte público coletivo: sistemas de transporte urbano e semiurbano​
  • Atividades culturais: produções artísticas, teatrais e audiovisuais​

Além disso, a cesta básica nacional terá alíquota zerada, incluindo produtos alimentícios essenciais. Durante a tramitação legislativa, os parlamentares incluíram itens como carnes e queijos nessa lista.​

Cronograma de implementação do IVA (2026-2033)

A transição para o novo sistema ocorrerá gradualmente ao longo de sete anos, permitindo que empresas, governos e sistemas se adaptem progressivamente.​

Fase de teste em 2026

O ano de 2026 será o “ano de teste” do novo sistema tributário. Durante esse período, as empresas deverão emitir nas notas fiscais os valores correspondentes à CBS e ao IBS, mas sem recolhimento efetivo dos novos tributos.​

Simultaneamente, o sistema atual de PIS, Cofins, ICMS e ISS continuará vigente normalmente. O governo busca verificar o funcionamento do modelo, identificar problemas operacionais e realizar ajustes necessários antes da implementação definitiva.​

Transição gradual até 2033

A partir de 2027, o cronograma implementará a substituição progressiva dos tributos antigos pelos novos:​

  • 2027-2028: O governo cobrará o IBS à alíquota de 0,1% e reduzirá a CBS em 0,1 ponto percentual nos tributos atuais​
  • 2029-2032: As alíquotas de ICMS e ISS cairão 20% ao ano, com aumento proporcional do IBS​
  • 2033: O novo sistema entrará em vigor completamente, extinguindo definitivamente PIS, Cofins, ICMS e ISS​

Esse cronograma permite que estados e municípios ajustem seus orçamentos gradualmente, evitando choques abruptos na arrecadação. Também dá tempo para empresas adaptarem sistemas e processos internos.​

Como calcular o IVA: Exemplo prático

As empresas precisam entender o mecanismo de cálculo para se prepararem adequadamente para o novo sistema.​

Mecanismo de não cumulatividade

não cumulatividade plena significa que o IVA incide apenas sobre o valor agregado em cada etapa, não sobre o valor total da operação. Vejamos um exemplo prático na cadeia produtiva de suco de laranja:​

  • Produtor de laranjas: vende R$ 1.000 em frutas para a indústria e paga IVA de R$ 280 (28%)​
  • Indústria de sucos: compra R$ 1.000 em laranjas (já com R$ 280 de IVA embutido). Processa e vende suco por R$ 3.000 ao distribuidor. O IVA sobre R$ 3.000 seria R$ 840, mas ela deduz os R$ 280 já pagos, recolhendo apenas R$ 560​
  • Supermercado: compra R$ 3.000 em suco (já com R$ 840 de IVA embutido). Vende ao consumidor por R$ 5.000. O IVA sobre R$ 5.000 seria R$ 1.400, mas deduz os R$ 840 já pagos, recolhendo apenas R$ 560​
  • Consumidor final: paga R$ 5.000 com R$ 1.400 de IVA embutido (28%). Esse é o ônus tributário total da cadeia, mas cada empresa pagou apenas sobre o valor que adicionou​

Sistema de créditos tributários

Na prática operacional, as empresas farão a apuração mensal calculando:​

  • Débitos: IVA incidente sobre todas as vendas do mês​
  • Créditos: IVA pago em todas as compras de insumos, mercadorias e serviços do mês​
  • IVA a recolher: Débitos menos Créditos​

As empresas farão o pagamento através de uma guia única centralizada, processada por plataformas digitais que consolidam CBS e IBS. Isso elimina a multiplicidade de obrigações acessórias e guias de pagamento do sistema atual.​

Vantagens e Desvantagens do IVA

Como toda reforma estrutural, o IVA traz benefícios significativos mas também apresenta desafios.​

Principais benefícios do novo sistema

simplificação tributária é a vantagem mais evidente: dois tributos com regras unificadas substituirão cinco com legislações distintas. Isso reduz custos de conformidade, especialmente para pequenas e médias empresas que hoje precisam lidar com múltiplas obrigações.​

eliminação da cumulatividade reduz distorções de preços e torna a economia mais eficiente. O novo sistema beneficiará particularmente setores intensivos em insumos intermediários, que poderão creditar integralmente os impostos pagos.​

fim da guerra fiscal entre estados cria um ambiente de negócios mais previsível e isonômico. As empresas basearão suas decisões de localização em fatores econômicos reais, não em incentivos fiscais temporários.​

transparência ao consumidor aumenta, pois as notas fiscais destacarão o IVA, permitindo que cidadãos vejam exatamente quanto pagam de imposto.​

Desafios e pontos de atenção

O principal ponto crítico é o impacto regressivo do IVA: como tributo sobre consumo, ele pode afetar proporcionalmente mais as famílias de baixa renda, que gastam maior percentual de sua renda em bens e serviços.​

alíquota elevada de 28% preocupa economistas, pois pode encarecer produtos e serviços, especialmente aqueles não incluídos em regimes diferenciados. Para mitigar esse efeito, o governo criou mecanismos de cashback para famílias de baixa renda.​

transição operacional exigirá que empresas façam investimentos significativos em novos sistemas, treinamento de equipes e adequação de processos. Esse custo de adaptação pode desafiar especialmente negócios menores.​

Impactos do IVA para Empresas e Consumidores

As mudanças trazidas pelo IVA afetarão diferentemente cada agente econômico.​

O que muda para as empresas

As empresas precisarão adaptar completamente seus sistemas de gestão fiscal e contábil para operar com o novo modelo. A emissão de documentos fiscais eletrônicos seguirá novos padrões, exigindo atualização de softwares.​

gestão de créditos tributários se tornará mais estratégica: diferentemente do sistema atual onde há limitações, no IVA as empresas poderão creditar todo imposto pago em insumos. Isso demandará controles mais rigorosos de compras e vendas.​

Empresas que hoje sofrem com acúmulo de créditos (exportadores, produtores de itens com alíquota zero) terão maior facilidade para ressarcimento no novo sistema. O processo de recuperação de créditos será mais transparente e ágil.​

O novo sistema impactará particularmente os setores de serviços: hoje muitos pagam apenas ISS, mas no IVA estarão sujeitos à alíquota padrão de 28%, salvo se incluídos em regimes diferenciados.​

Efeitos no bolso do consumidor final

Para o consumidor, o principal efeito será a transparência nos preços: o IVA destacado na nota fiscal permitirá saber exatamente quanto do valor pago corresponde a imposto.​

Em teoria, produtos com alta carga tributária atual podem ficar mais baratos devido à eliminação da cumulatividade, enquanto produtos com baixa tributação podem encarecer. O efeito líquido dependerá da estrutura de cada cadeia produtiva.​

cesta básica com alíquota zero e os regimes diferenciados para saúde e educação buscam proteger gastos essenciais das famílias. Ainda assim, especialistas alertam que a alíquota de 28% pode pressionar a inflação de outros bens.​

sistema de cashback para famílias de baixa renda funcionará como mecanismo compensatório, devolvendo parte do IVA pago em compras básicas através do CPF na nota fiscal.​

Como preparar sua empresa para o IVA

A preparação antecipada garante uma transição suave e evita problemas de conformidade.​

  • Mapeie sua cadeia de fornecedores: identifique todos os insumos e serviços que geram direito a crédito de IVA. Organize documentação fiscal de forma rigorosa.​
  • Atualize sistemas de gestão: softwares de ERP, emissão fiscal e contabilidade precisarão adaptações para o novo modelo. Converse com fornecedores de tecnologia desde já.​
  • Capacite sua equipe: treine colaboradores das áreas fiscal, contábil e financeira sobre as novas regras. A mudança conceitual é profunda.​
  • Simule cenários: utilize 2026 (ano de teste) para fazer simulações reais de como sua carga tributária mudará. Ajuste precificação e estratégias conforme necessário.​
  • Busque assessoria especializada: considere contratar consultorias tributárias para análise detalhada do impacto específico no seu negócio e setores de atuação.​

Perguntas Frequentes sobre IVA no Brasil

Quando o IVA começa a valer no Brasil?

O IVA terá fase de teste em 2026, quando aparecerá nas notas fiscais mas sem cobrança efetiva. A implementação gradual começa em 2027 e o sistema concluirá a transição em 2033, quando os tributos atuais desaparecerão completamente.​

Qual a diferença entre CBS e IBS?

A CBS é o tributo federal (9,3%) que substitui PIS e Cofins, e a Receita Federal gerencia sua arrecadação. O IBS é estadual e municipal (18,7%), substitui ICMS e ISS, e um Comitê Gestor unificado administrará essa cobrança. Juntos formam o IVA Dual de 28%.​

O IVA vai aumentar os preços dos produtos?

Depende do setor e da estrutura de cada cadeia produtiva. A eliminação da cumulatividade pode baratear produtos com alta carga tributária atual, enquanto serviços hoje tributados apenas por ISS podem encarecer. A alíquota zero na cesta básica protegerá produtos essenciais.​

Pequenas empresas do Simples Nacional serão afetadas?

Sim, mas de forma diferente. O Simples Nacional permanecerá existindo, mas terá regras adaptadas para o IVA. Microempreendedores precisarão avaliar se continuam no regime simplificado ou migram para o sistema de IVA com aproveitamento integral de créditos.​

Como o IVA acaba com a guerra fiscal?

Porque o sistema cobrará a tributação no destino (onde o consumidor compra), não na origem (onde está a fábrica). Assim, estados não terão mais incentivo para oferecer benefícios fiscais para atrair empresas, pois o estado consumidor arrecadará o imposto de qualquer forma.​

 

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